domingo, 15 de março de 2009

MEC realiza consulta pública sobre diretrizes curriculares do Jornalismo .

Caros, Ministério da Educaçãoconsulta.jornalismo@mec.gov.br. As diretrizes curriculares são documentos que informam às faculdades e universidades as condições mínimas para um aluno merecer o diploma de jornalista. recebe até o dia 30 de março manifestações da sociedade sobre como devem ser as novas diretrizes curriculares dos cursos de jornalismo. Quem tiver sugestões sobre o perfil mais adequado para os jornalistas do futuro ou sobre as habilidades a serem adquiridas na graduação deve enviá-las para o endereço

Particularmente, defendo que a Consulta do MEC deveria também abrir a possibilidade de qualificar qualquer pessoa com ou sem diploma universitário a exercer atividades do campo do Jornalismo e da Comunicação, com cursos complementares, cursos de extensão, cursos de especialização, etc.

Acho que todos os midialivristas deveriam se manifestar. Não precisa ser extenso (eu tive que fazer uma resposta mais "formal"), mas enviar uma posição para "marcar posição"...abraços, Ivana

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Segue minha contribuição para o debate/ Ivana Bentes - Escola de Comunicação da UFRJ


1. O perfil desejável do jornalista diante das transformações política, culturais, sociais e tecnológicas contemporâneas


Acreditamos na necessidade de uma mudança radical no perfil do jornalista que deveria ter como horizonte não um "especialista" , mas um profissional "multimídia", capaz de atuar num campo em expansão, que exige o domínio e compreensão das novas tecnologias da informação e suas conseqüências para o mercado de Comunicação e seu impacto numa série de mutações sociais e culturais. O jornalista multimídia tem como perfil básico a sua versatilidade e a própria percepção de que a sua "expertise" se tornou a condição básica de qualquer formação, em qualquer domínio. Ou seja o "jornalista" pensado na forma corporativa tenderia a dar lugar ao midialivrista.

O jornalista multimídia poderá exercer sua profissão/atividade em diferentes meios e não deveria ficar restrito ao domínio do "texto", mas dominar a linguagem audiovisual, hipertextual, os meios eletrônicos, estando atento ao processo de convergência das mídias e das linguagens. Como requisito básico para exercer sua profissão está a atenção às inovações e linguagens comunicacionais e tecnológicas, assim como uma sensibilidade para a promoção de seu uso democrático e cidadão, experimental, como importante instrumento de desenvolvimento social e cultural. O jornalista multimídia deverá conhecer os processos de produção, distribuição, exibição e divulgação de produtos multimídias e usar as linguagens multimídias de forma criativa, crítica, experimental de maneira a contribuir para o aumento da produtividade social e apropriação dos meios de comunicação pela sociedade.

Deve ser capaz de elaborar textos, argumentos, roteiros, estruturas dramáticas para os meios audiovisuais e digitais e dominar os princípios e fundamentos da produção de textos para diferentes mídias, captação, edição e pós-produção de imagens, produção digital, gráfica, cinematográfica e videográfica, principios da cultura livre e do software livre, redes sociais, linguagem dos blogs, wikis e tecnologias de colaboração e de multi-autoria.


2. As competências a serem construídas na formação superior desses profissionais em termos de conhecimento, habilidades, atitudes e valores.

Conhecimento:


Uma formação aprofundada nos diferentes campos das ciências humanas: sociologia, antropologia, história, ciências sociais, economia, estética, filosofia e uma formação específica para as novas linguagens e meios de comunicação, com ênfase na convergência das mídias e experimetação de linguagens.


Competências: Para além de uma formação humanística sólida e abrangente, dominar habilidades específicas e a linguagem jornalística para meios impressos, eletrônicos e digitais, podendo atuar como redator, editor, editorialista, repórter, entrevistador, repórter fotográfico, de rádio e televisão, cronista, analista e comentarista, assim como poderá trabalhar em atividades de organização e gerenciamento de informações, bancos de dados, arquivos e ainda na função de revisor e editor de textos e imagens, designer gráfico, ilustrador, entre outras atividades de pauta, assessoria de imprensa, consultoria, elaboração, avaliação e execução projetos na área de jornalismo e comunicação, webmaster, moderador de listas, blogs e sites, com capacidade de análise, de síntese, de interpretação, inovação e visão crítica.


Habilidades: pesquisar, apurar, selecionar, interpretar fatos, opiniões, notícias, acontecimentos sociais, transformar fatos em análises críticas, notícias, reportagens, informes, estatísticas, e todo tipo de informação relevante, utilizando para isso a linguagem jornalística a mais diversa e criativa e não apenas a linguagem tradicional, adequando a linguagem aos mais diferentes meios. Terá ainda que estar atento às inovações e ao uso de novos dispositivos e novas linguagens comunicacionais e tecnológicas (blogs, micro-movies, jornalismo twitter, wiki)


Atitudes e valores:
O jornalista trabalha com bens simbólicos altamente valorizados socialmente (opiniões, juizo de valor, interpretação de fatos, análise de contextos, etc.). Ao exercer suas atividades nos meios de comunicação de massa, nos meios eletrônicos, torna-se capaz de influir na opinião pública, nas políticas públicas, participando diretamente na vida social, o que exige comportamento ético e reflexão crítica constantes e necessários para o exercício da sua profissão.


3. Criação de cursos de graduação e mestrado e doutorado em jornalismo, e não meras habilitações ou linhas de pesquisa de cursos de comunicação. Qual a sua opinião sobre essa proposta?


A mudança histórica dos cursos de Jornalismo para Cursos de Comunicação trouxe um entendimento menos "corporativo" e menos "estreito" da profissão e do ensino de Jornalismo. Investir em graduações específicas de "jornalismo" ou mestrados e doutorados em jornalismo nos parece um retrocesso, no momento em que a convergência tecnológica das mídias exige a "convergência" das diferentes habilitações e ampliação das competências para o exercício das profissões e atividades do campo da Comunicação. Para além das graduações em jornalismo, seria muito mais produtivo cursos de "atualização", especializações e cursos de extensão em Jornalismo, que não ficariam "engessados" e que poderiam acompanhar as transformações nesse campo.


4. Dupla diplomação: deve o exercício profissional do jornalismo ser permitido a profissionais de outras áreas após uma formação complementar em jornalismo? Em caso afirmativo, como deveria ser essa complementação?


O exercício profissional do jornalismo deveria ser permitido a qualquer profissional de outras áreas, com formação superior em qualquer campo ou mesmo sem formação superior (em cursos de especialização e extensão reconhecidos pelo MEC ou em cursos "livres" reconhecidos e avaliados pelo MEC ou socialmente), já que a prática jornalística é entendida hoje não como uma atividade de "especialistas" simplesmente, mas como um "direito" e uma condição para o exercício pleno da cidadania e da democracia. O que significa ampliar a base de cidadãos brasileiros aptos a produzir, distribuir e selecionar informações relevantes e aptos a analisar, interpretar e valorar informações factuais e opiniões. Assim como habilitar o maior números de brasileiros a utilizar livremente as velhas e novas mídias e linguagens.

Entendemos ainda que todos os graduados em Comunicação (em todas as habilitações) deveriam estar aptos a exercer a profissão de jornalista. Bastando para isso reforçar, em todas as habilitações, as disciplinas, habilidades e competências necessárias ao exercício do jornalismo. Hoje, a exigência da habilitação em jornalismo para exercer determinados cargos e funções restringe a empregabilidade e o o campo de trabalho de um enorme contingente de jovens formados em Comunicação Social. Criando uma "excepcionalidade" para jornalismo que não se aplica a outras habilitações de Comunicação social. O que justificaria a "excepcionalidade do jornalismo"?

Entendemos, por exemplo, que o exercício da profissão na ára de publicidade (um campo de formação de valores de grande poder e influência, assim como outras habilitações), exige tantas habilidades, competências, pressupostos éticos e responsabilidade social quanto o de jornalistas e mesmo assim não tem a exigência de diploma, o que não afeta nem a qualidade dos cursos atuais, nem o nível de exigência dos empregadores, que dão preferência aos graduados em Comunicação com habilitação em publicidade, com um diploma universitário.

Defendemos que a dupla diplomação deveria ser permitida a qualquer profissional de outras áreas, com uma formação complementar de no máximo 1 ano com disciplinas equivalentes as ministradas hoje na habilitação de jornalismo ou com o equivalente a carga horária de cursos de especialização e/ou cursos de extensão, passíveis de avaliação. Disciplinas: Redação jornalística, Técnica de reportagem, Fotojornalismo, História do jornalismo, Radiojornalismo, Jornalismo gráfico, Telejornalismo, Assessoria de imprensa, Edição gráfica, Legislação e Ética para Jornalismo , Jornalismo digital, web-jornalismo, Midialivrismo, Jornalismo twitter, Jornalismo on-line, etc.


5. Formação do profissional multimídia. Deve ser feita? Com que perfil?


Sim. O profissional multimídia não é um "generalista" simplesmente, ao contrário é um multi-especialista, que atua hoje num campo em expansão, que exige o domínio e compreensão de diferentes linguagens e de diferentes mídias e tecnologias e suas conseqüências sociais, estéticas e econômicas. O produtor de multimídia é um profissional valorizado pela sua versatilidade, o que aumenta suas possibilidades profissionais e sua percepção como produtor de conhecimento e como um novo agente de informação, formação e desenvolvimento social e cultural, seja no âmbito local, regional, nacional ou global.

O realizador multimídia poderá exercer sua profissão em diferentes meios, com destaque para o campo do audiovisual, da produção eletrônica, internet, telecomunicações e campos em que está se dando a convergência das mídias e a diversificação das linguagens. Como requisito básico para exercer sua profissão está a atenção às inovações e linguagens comunicacionais e tecnológicas, assim como uma sensibilidade para a promoção de seu uso democrático e cidadão, como importante instrumento de desenvolvimento social e cultural.

O realizador multimídia deverá conhecer os processos de produção, distribuição, exibição e divulgação de produtos multimídias e usar as linguagens multimídias de forma criativa, crítica, experimental de maneira a contribuir para democratização dos meios de comunicação.

Deve ser capaz de elaborar textos, argumentos, roteiros, estruturas dramáticas para os meios audiovisuais e digitais e dominar os princípios e fundamentos da constituição da imagem e da produção digital, gráfica, cinematográfica e videográfica, software livre, redes sociais, linguagem dos blogs, wikis e tecnologias de colaboração e de multi-autoria.

Para isso é necessário, além de uma formação humanística sólida e abrangente, o exercício criativo e crítico das técnicas, ter o domínio de habilidades específicas e conhecer as etapas e diferentes processos para a realização de produtos multimídias. Deverá, ainda, para além das atividades de criação, dominar os principais programas de editoração eletrônica, computação gráfica, captação e edição de imagem e de som, pós-produção. O profissional da multimídia poderá atuar como realizador audiovisual nas funções de direção, roteirização, produção, edição, programação multimídia, produtor de conteúdo, de imagens, analista de sistemas multimídias, produtor de textos, imagens, animação, produtor gráfico, arte-finalista, gestor de dados e de banco de dados, criador de sites, blogs, wikis, portais e produtos de multimídia para CD-ROM, games, filmes, vídeo e publicidade. Atuará nos campos de criação, administração e gerenciamento de multimídia.

O profissional multimídia exerce suas atividades nos meios de comunicação de massa, nos meios eletrônicos, de forma privada com seus prórpios meios, de forma coletiva, em produtoras de vídeo, cinema, provedores de internet, empresas de telecomunicação e telefonia, jornais, revistas, televisão, rádio, internet e multimeios, no campo da comunicação institucional, privada ou governamental, na administração de empresas de comunicação e, como docente, poderá exercer profissão em instituições de ensino superior e cursos técnicos e especializados.


6. Sugira modificações:


a) nos processos de autorização e reconhecimento dos cursos? Quais?


Os cursos formais de jornalismo deveriam ter o compromisso com o Ministério da Educação e com a sociedade de abrir cursos de extensão e de especialziação para "não-universitários", ONGs, agentes do terceiro setor, midialivristas, participantes dos movimentos sociais, para contribuir para a qualificação destes novos agentes e atores do campo da Comunicação e do Jornalismo e não defender o fechamento do campo, numa proposta corporativista e de "reserva de mercado" para jornalistas "profissionais". A exigência de "diploma" de jornalista para exercer a profissão deveria dar lugar a qualificação dos atuais cursos de jornalismo e a ampliação e qualificação e avaliação dos cursos 'livres" que deveriam ser incentivados e apoiados pelo Ministério da Educação, sindicatos,corporações e universidades, no sentido não de "criminalizar" a formação livre, mas qualificá-la.


b) no sistema de avaliação de cursos? Quais?

Deveria contar positivamente na avaliação a capacidade de formação "livre", desengessada, com liberdade pedagógica, liberdade de metodologia e experimentação de novos formatos de ensino-aprendizado.


7. Que outras sugestões, propostas e avaliações você acredita que devam ser feitas à Comissão do MEC?

As habilitações e cursos de jornalismo deveriam ser "desengesados", com perfis múltiplos e singulares e não mais massificados e disciplinares, como os atuais. O MEC, os sindicatos as corporações, a comunidade acadêmica deveriam estar mais atentos a produção jornalística inovadora da sociedade e a produção jornalística, multimídia, comunicacional dos diferentes sujeitos sociais, para além da defesa corporativa de um campo. Retroceder do campo ampliado e arejado da Comunicação para a "hiper-especialidade" do jornalismo nos parece um equívoco. A qualificação dos cursos de jornalismo passa pela renovação de perfil dos próprios professores e profissionais, juntamente com a necessidade de uma reconfiguração radical do que se entende como "jornalista".

A Consulta do MEC deveria também abrir a possibilidade de qualificar cidadãos brasileiros com ou sem diploma universitário a exercer o seu direito a Comunicação e exercer atividades do campo do jornalismo, com cursos complementares, cursos de extensão, cursos de especialização.

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